Experiência com a Sálvia divinorum

Autor: Cristina Luz

 

04-10- 04 – 2a experiência com a Sálvia divinorum (fumada)

Local- São Paulo; casa de amigos.

Sálvia divinorum- Principal substância ativa: salvinorina

Região de origem da planta: México (Oaxaca)

 

Relato

 

            No dia 04 de outubro de 2004 experimentei a Salvia na casa de amigos. Na primeira tentativa não alcancei o ápice da experiência pois não fumei adequadamente, deveria Ter segurado mais tempo a substância nos pulmões. No entanto, nessa primeira vez senti meu corpo inteiro formigando, adormecendo, e mesmo eu vendo as pessoas ao meu redor, parecia que eu não estava ali. Não conseguia me comunicar, era como se todos os sentidos estivessem desconectados. Veio-me então um sentimento de estranheza que logo foi passando juntamente com o formigamento, até que o corpo foi voltando e parecia que os fios neuronais haviam sido conectados novamente.

            Na Segunda tentativa a experiência foi fascinante. Em poucos segundos sai fora do meu corpo, então fechei os olhos para fugir das influências externas e fui sugada por um buraco negro que me engolia. Era muito escuro e girava rapidamente. De repente senti como se as raízes de uma árvore muito grande estivessem crescendo desde a planta dos meus pés até o topo da minha cabeça continuando até o infinito, e a casca da árvore era grosa e torcida.  Quando tentei abrir os olhos vi vários pontos de luz espalhados pela sala, quase que ofuscando minha visão. Então olhei para  uma imagem que estava no computador, e me tornei a chama de fogo que estava queimando. Foi um sentimento de fusão com o fogo, de transformação. Mas era tão forte que tive que pedir p/ tirarem a imagem de lá, pois estava me incomodando. Foi quando começou a passar uma imagem de um espiral girando, e foi incrível, senti as células do meu corpo girando em espiral e foi uma sensação orgânica que me causou intensa agonia.

Durante a experiência senti uma total desfiguração do meu eu.  Uma experiência de  ruptura entre a consciência e o corpo. O corpo parecia todo anestesiado, depois começou a formigar e foi voltando ao normal. Mas a rapidez com que a Salvia rompe com a  consciência corporal é instigante, pois aniquila com o senso de quem você é, e com a existência real do que está ao redor. Tanto que vieram as seguintes questões: “Eu existo mesmo? Essas pessoas são reais?”, foi então que precisei tocar a mão de alguém que estava sentado próximo, e foi um alívio, me trouxe de volta para o meu corpo e para a sala. Nesse instante percebi que era realmente eu quem estava ali e então me lembrei da Salvia.

Por um tempo tudo ficou muito estranho, as pessoas conversavam mas nada estava fazendo muito sentido. Fiquei um pouco hipnotizada pelas imagens que estavam sendo passadas no computador, e percebi que a  sensibilidade pelas cores e formas geométricas estava ampliada. As mandalas me direcionavam fortemente  para o meu  centro, enquanto outras imagens me direcionava do centro para as extremidades, gerando amplitude e expansão interior.

A viagem com a Salvia é muito rápida e brusca,  acontece um aniquilamento intenso da personalidade e da dimensão corporal no espaço e no tempo. Percebi a experiência como uma reação físico-química imediata, que rompe a comunicação entre o corpo e a consciência, destruindo temporariamente o sentido de tudo. Talvez seja por esse motivo que a experiência com a Salvia pode ser tão assustadora, pois mostra ao ser humano, que  sua principal ilusão, a de que possui  o controle do corpo e da mente, pode ser transformada em questão de segundos através de  uma vivência de completa distorção da realidade.