Prólogo do livro A reinvenção do uso da Ayahuasca nos centros urbanos

 

 

Este livro é resultado da minha Dissertação de Mestrado em Antropologia Social, defendida em abril de 2000, na Unicamp, sob a orientação do professor Mauro Almeida e com a banca composta pelos professores Otávio Guilherme Velho e Maria Filomena Gregori, os quais agradeço pelas leituras atenciosas.

A pesquisa foi desenvolvida durante os anos de 1998 e 1999 e analisou pequenos grupos ayahuasqueiros existentes há poucos anos. Passados três anos da defesa, o panorama do campo ayahuasqueiro brasileiro mudou um pouco. Lembro-me que, no início da pesquisa, encontrar grupos independentes não vinculados às principais matrizes religiosas ayahuasqueiras, o Santo Daime e a União do Vegetal, era uma tarefa bastante árdua. Hoje, ao contrário, parece que estamos diante de uma explosão de diferentes modalidades e variedades urbanas de consumo da ayahuasca. Isto confirma, de certa forma, as hipóteses deste estudo, que sinalizavam a existência de um processo de diversificação e fragmentação crescente neste campo – embora sempre submetido aos referenciais centrais e hegemônicos das religiões ayahuasqueiras tidas como “tradicionais”.

Para além das mudanças que tornam qualquer trabalho datado – pessoas se casam, morrem, viajam, rupturas acontecem – algumas transformações observadas são importantes na medida em que entre o tempo de coleta de dados e a publicação deste texto certos grupos dobraram seus anos de existência. Embora tenha resistido à tentação de rescrever o trabalho, voltei ao campo e fiz breves incursões para atualizar dados essenciais, os quais foram acrescentados em notas de rodapé. Além disto, o texto foi revisado: foram alterados detalhes estilísticos, incorporadas, na medida do possível, algumas sugestões da banca e inseridas poucas novas referências bibliográficas. Trata-se, portanto, basicamente do mesmo trabalho apresentado então, pois no meu entender suas questões centrais permanecem atuais e instigantes.

 

Beatriz Caiuby Labate, abril 2003.