Ritmo e subjetividade: o tempo não pulsado. Rio de Janeiro: Multifoco, 2011.
Pensar a produção de subjetividade no contemporâneo é paradoxal, pois exige a afirmação simultânea de temporalidades que funcionam como tendências divergentes: do caos nascem os meios e os ritmos. Assim, com o auxílio da música e da filosofia contemporâneas, Ritmo e subjetividade explora e confronta duas temporalidades distintas, porém inseparáveis: um tempo pulsado, ou estriado, e outro não pulsado, amorfo ou liso. O tempo amorfo não possui estruturas de pulsação; é o tempo da perda dos limites territoriais por movimentos de desterritorialização, da produção de novas formas por processos constantes de deformação, da dessubjetivação pelo esquecimento de marcas identitárias; sob o regime do Aion, é um tempo cujo presente se atualiza como instante, sem medida superior que lhe dê unidade. Por outro lado, há sempre um tempo estriado, sob o regime de Cronos, que marca um território por suas medidas, mede o estado de desenvolvimento de uma forma por seus estágios, identifica um sujeito por suas memórias e marca a métrica de uma música pelas pulsações; trata-se de um tempo cujo presente se apresenta como meu, uma propriedade, um sentido interno, uma forma a priori. Tempo pulsado e não pulsado funcionam como tendências opostas, embora inseparáveis. De sua articulação na música e na produção de subjetividade, emerge uma linguagem transversal como estilo, afirmando a arte e a clínica para dar consistência a forças de criação impedidas de se afirmar por si mesmas.