Modulações de sentidos na experiência psicodélica: saúde mental e gestão autônoma de psicotrópicos prescritos e proscritos. Curitiba: CRV, 2016.
O livro, resultado de um doutorado em Psicologia (UFF), realizado por Sandro Rodrigues no âmbito de uma pesquisa multicêntrica internacional sobre a Gestão Autônoma da Medicação (GAM) – tecnologia de cuidado de usuários de medicamentos prescritos em saúde mental desenvolvida no Canadá e adaptada à realidade da saúde mental brasileira –, articula a aposta clínico-política da GAM na autonomia e na valorização da experiência dos próprios usuários à história de usos científicos, militares, estéticos e culturais de psicodélicos. Além de contribuir, através da partilha de uma sensibilidade psicodélica, para a formação transdisciplinar no campo do cuidado de usuários de psicotrópicos prescritos e proscritos, o livro busca ressaltar a importância, em todo processo de pesquisa-intervenção, de se proceder a uma constante análise de implicações (éticas, estéticas, políticas etc) com o campo e a pesquisa. As implicações do autor com o rock psicodélico, a esquizoanálise, a literatura beat e o antiproibicionismo se expressam no texto por meio de experimentações com a linguagem visando promover efeitos de transformação na política cognitiva hegemônica, ou seja, no modo de se perceber e, consequentemente, abordar o uso de psicotrópicos no contemporâneo.
Conforme escreve Henrique Carneiro no prefácio, “(…) a tensão entre a autogestão e a heterogestão percorre uma narrativa que debate sobre as últimas fronteiras do estado da arte da cultura ciberdélica. Os episódios mais significativos do psicodelismo, com os psicólogos expulsos de Harvard, Timothy Leary e Richard Alpert, iniciando um novo apostolado iniciático em mistérios lisérgicos, encontrando o fascínio do escritor Aldous Huxley pelas portas da percepção, e chegando aos expoentes de um estilo musical que se tornou trilha-sonora dos ‘testes de ácido’, que se espalharam inicialmente como happenings neo-dionisíacos e depois tiveram derivas junkies de excessos destrutivos, são descritos como um pano de fundo para a narrativa atual do trabalho de campo clínico do psicólogo. Sua publicação é uma contribuição inestimável para os estudos sobre drogas no Brasil, vinculando o âmbito psicofarmacêutico com os demais consumos sociais, e traduzindo assim uma sensibilidade psicológica de analista, somada à consciência crítica do ativista e à consciência entusiástica do pesquisador de campo, que não apenas navega na logosfera da biblioesfera ou da ciberesfera, mas vai ao terreno, conhece e olha nos olhos os indivíduos que fazem parte de sua pesquisa e busca compreendê-los não apenas por um necessário distanciamento crítico metodológico, mas também por uma indispensável empatia condoída e compassiva”.