Esquece que é macumba: os intelectuais acadêmicos e a macumba no Brasil. Dissertação de mestrado em Antropologia, Universidade Federal da Grande Dourados (previsão de conclusão: 2015). .
O termo macumba possui vários significados, e acabou por contrair uma carga extremamente pejorativa. No entanto, a macumba é uma tradição religiosa tão antiga quanto o candomblé, que dentre rupturas e continuidades, se mantém ativa no território brasileiro, tendo adotado, no decorrer do séc. XX, o nome de umbanda. A presente pesquisa pretende analisar a relação que os pesquisadores acadêmicos mantiveram com a macumba em seus escritos. Num primeiro momento a análise se volta aos pesquisadores “clássicos”, de Nina Rodrigues a Roger Bastide, perpassando por alguns autores que escreveram na primeira metade do século XX. Observa-se, entre estes pesquisadores, a valorização do modelo de culto nagô em detrimento das outras formas de culto, tidas como degeneradas, em especial a macumba. Num segundo momento busquei delimitar alguns autores (começando por Bastide e perpassando por alguns autores cuja maioria foi por ele influenciada) que escreveram entre as décadas de 1960, 1970 e 1980, e que se propuseram a estudar a umbanda, suas origens, e suas características. Aqui percebe-se que, para estes autores, a macumba deu origem à umbanda, mas as duas não são a mesma religião, ficando implícito que, com o advento da umbanda, a macumba deixou de existir. Num terceiro momento, busquei descrever os sinais diacríticos da macumba, dialogando com alguns autores contemporâneos. Após demonstrar a multiplicidade/diversidade do campo religioso afro-brasileiro, aponto que a macumba acabou por ser relacionada com a quimbanda, as “entidades da esquerda” (os exus e pombagiras), e com as situações de demanda (categoria nativa que designa uma disputa simbólica). Mesmo que alicerçado em trabalho de campo que venho realizando em diversos terreiros da cidade Campo Grande-MS, a presente pesquisa se configura mais como um caso de Antropologia Histórica (aquela que, como bem ressaltou Lilia M. Schwarcz, se debruça sobre fontes documentais), ou mesmo, como um ensaio epistemológico. Forget that it is ‘macumba’ (Brazilian voodoo): ‘macumba’ academics and intellectuals in Brazil. Dissertation in Anthropology, Universidade Federal da Grande Dourados (expected conclusion: 2015). Saulo Conde Fernandes The term ‘macumba’ (Brazilian voodoo) has several meanings, but it ended up getting an extremely pejorative one. However, ‘macumba’ is a religious tradition as old as Candomblé, which among ruptures and continuities, remains active in the Brazilian territory. It adopted the name of Umbanda during the 20th century. This research aims to analyze the relationship that academic researchers had with ‘macumba’ in his writings. Initially the analysis turns to the ‘classics’ researchers, from Nina Rodrigues to Roger Bastide, passing by some authors who published in the first half of the twentieth century. It is observed among these researchers, the appreciation of the ‘nagô’ cult model to the detriment of other forms of worship, regarded as degenerate, especially ‘macumba’. In a second moment I tried to delineate some authors (starting with Bastide and passing by some authors whose majority was influenced by) who wrote between the 1960s, 1970s and 1980s, and who proposed to study the Umbanda, their origins and their characteristics. Here we can realize that, for these authors, ‘macumba’ originated Umbanda, but they are not the same religion, it is implied that with the advent of Umbanda, ‘macumba’ ceased to exist. The third part of the research consists of describing the diacritics of ‘macumba’, dialoguing with some contemporary authors. After demonstrating the multiplicity / diversity of african-Brazilian religious field, I point out that ‘macumba’ turned out to be related to kimbanda, “entities of the left” (the exus and pombagiras), and demand situations (native category that designs a symbolic dispute). Even though grounded in fieldwork I have accomplished visiting many religious places in the city of Campo Grande-MS, this research is shaped more like a case of Historical Anthropology (one that, as Lilia M. Schwarcz said, focuses on documentary sources) or even as a epistemological essay.