Fronteiras da Natureza: laboratórios de biotecnologia sob exame antropológico. Projeto de Doutorado em Antropologia Social (previsão de conclusão: 2008).
A partir de metodologia etnográfica, este projeto pretende descrever o trabalho enormemente difícil de, grosso modo, separar Natureza e Cultura nas pesquisas laboratoriais de biotecnologia genética (em São Paulo, ao menos inicialmente), voltadas para a criação de terapêuticas. Tal trabalho, ao meu ver, parece ser decisivo para o sucesso da medicina genética. Assim como se faz nos laboratórios chamados contra-placebo, estes destinados a sintetizar a molécula medicamentosa tradicional (como os comprimidos normalmente receitados pelos médicos e disponíveis no mercado), também com a genômica, ou sobretudo com ela, se busca, como uma espécie de última fronteira, o ideal da “purificação” (B. Latour) previsto no projeto da “Constituição Moderna” (idem). Para o caso em tela, entendo que essa purificação significa separar entre, de um lado, os dados variáveis (modernamente classificados como do domínio da Cultura) e, de outro, os dados estáveis (modernamente classificados como do domínio da Natureza). Ao cabo, tal esforço consiste em eliminar a subjetividade (do doente, do médico e dos tecno-cientistas de laboratório), para assim produzir uma medicina generalizável, universal e eficaz, que enfim não dependa mais dos chamados testes contra-placebo. De fato, no horizonte da terapia genética (ainda em grande parte utópico), o que se espera é eliminar a “má razão” (conforme jargão dos tecno-cientistas) que sempre se instala no “elo intermediário” (P. Pignarre), i e, entre o fármaco e a resposta do organismo individual, razão dos referidos experimentos contra-placebo. A genômica, enfim, atuaria diretamente na causa das doenças, modificando ou eliminando seu programa de funcionamento e evolução. Mas será possível eliminar de todo a subjetividade (sempre particular e rebelde a estabilizações) e assim naturalizar (i e, estabilizar) os domínios arbitrários do humano? Portanto, interessa-me descrever, nesse âmbito circunscrito da farmacogenética, as vicissitudes de tal incrível trabalho de purificar e expandir as fronteiras do natural no homem.