voltar para Página InicialTesesO bem beber e a embriaguez reprovável segundo os Povos Indígenas do Uaçá. Tese de Doutorado em Antropologia Social, USP, 2006.

O bem beber e a embriaguez reprovável segundo os Povos Indígenas do Uaçá. Tese de Doutorado em Antropologia Social, USP, 2006.

Laércio Fidelis Dias

O objetivo desta tese é a análise dos significados simbólicos do consumo de bebidas alcóolicas entre os grupos indígenas Karipuna, Galibi Marworno, Palikur e Galibi de Oiapoque, todos localizados no extremo norte do Estado do Amapá, nas Terras Indígenas Uaçá, Juminã e Galibi. Já está bastante estabelecido na literatura antropológica sobre o tema que, onde quer que um ou mais tipos de bebida alcoólica estejam disponíveis, seu consumo é utilizado para definir o mundo social em termos de significados simbólicos. São poucas ou nenhuma as bebidas “neutras”, sem significado. Toda bebida é um veículo simbólico, carrega uma mensagem. Identifica, discrimina, constrói e manipula sistemas sociais, valores, relações interpessoais, normas e expectativas de comportamento. O pressuposto básico do trabalho é de que o consumo do álcool é feito sob orientação de padrões socioculturais que o estruturam e são sua fonte de sentido. O que e por que se consome, os seus efeitos no comportamento e a avaliação deste, só podem ser explicados com referência a esses padrões. Assim sendo, o estudo dos significados simbólicos do consumo de bebidas alcóolicas entre os grupos indígenas do Uaçá possibilitará compreender quais são os padrões indígenas de consumo e, a partir daí, entender suas percepções do bem beber e da embriaguez reprovável. A hipótese é de que o consumo de bebidas alcoólicas entre os grupos indígenas do Uaçá é ambivalente, ou seja, a qualificação de seu consumo é positivada quando for expressão de sociabilidade adequada entre as famílias, entre os grupos e destes com o sobrenatural, e é tornada negativa quando representar ruptura dessa sociabilidade. O bem beber e a embriaguez reprovável não estão diretamente ligados à quantidade de bebida ingerida, assim a noção de excesso ganha sentido apenas se relacionada ao contexto específico na qual ocorre.