voltar para Página InicialTesesO processo de patrimonialização da ayahuasca no Brasil: Conquistas, Disputas e Tensões. UFBA-PPGCS, Bahia, 2017.

O processo de patrimonialização da ayahuasca no Brasil: Conquistas, Disputas e Tensões. UFBA-PPGCS, Bahia, 2017.

André Coitinho Das Neves
O presente trabalho é uma reflexão sobre o processo de patrimonialização da ayahuasca em
andamento no IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional). Em nossa
análise, buscou-se privilegiar os seus elementos de bastidores, como foco nas articulações e
nas relações entre os grupos atores do processo, bem como em suas estratégias. Para tanto,
utilizou-se do método etnográfico combinando referências bibliográficas, documentais,
entrevistas e trabalho de campo. O pedido de registro da ayahuasca como patrimônio imaterial
brasileiro é uma tentativa estratégica de atores ayahuasqueiros em promover uma nova
compreensão, a nível estatal, de suas práticas religiosas e culturais, vistas até então, como um
fenômeno relacionado ao “uso de drogas” no Brasil. Um pouco antes, tais práticas também já
foram perseguidas, estigmatizadas e associadas à “macumba”. Neste sentido, é mais uma fase
do processo de legitimação pública destas práticas aos olhos das autoridades e da sociedade
civil, num processo parecido pelo qual passaram religiões de matriz africana e em especial o
Candomblé. O pedido de registro da ayahuasca, até então, têm se demonstrado um processo
recheado de conquistas, mas também repleto de tensões e de disputas simbólicas entre os
atores, que disputam para decidir “o que se quer ver registrado” enquanto bem cultural
imaterial. Nesta arena de conflitos e negociações, são protagonistas do processo; o CICLU –
Alto Santo, a Barquinha, a UDV, o CEFLURIS, os Neoayahuasqueiros, os Povos Indígenas
Acreanos, além de integrantes do Poder Público Acreano, do MINC (Ministério da Cultura) e
do IPHAN.
The process of patrimonialization of ayahuasca in Brazil: Conquests,
Disputes and Tensions

The present work is a reflection on the process of patrimonialization of ayahuasca in progress in IPHAN (National Historical and Artistic Heritage Institute). In our analysis, we sought to privilege its behind-the-scenes elements, as a focus on the articulations and relationships between the groups that are actors of the process, as well as in their strategies. To this end, the ethnographic method was used combining bibliographical references, documentaries, interviews and fieldwork. The request for registration of ayahuasca as Brazilian immaterial heritage is a strategic attempt by ayahuasca actors to promote a new understanding at the state level of their religious and cultural practices, seen until then, as a phenomenon related to “drug use” in Brazil. Shortly before, such practices have also been persecuted, stigmatized and associated with black magic or “Voodoo”. In this sense, it is another stage in the process of public
legitimation of these practices in the eyes of the authorities and civil society whose critical events are quite similar to those that have passed religions of African matrix and especially Candomblé. The application for registration of ayahuasca, until then, has been shown to be a complex process; full of achievements, but also filled with tensions and symbolic disputes between the actors, who are fighting to decide “what is desired to be registered” while immaterial cultural good. In this arena of conflicts and negotiations, they are protagonists of the process; the CICLU – Alto Santo, Barquinha, UDV, CEFLURIS, Neoayahuasqueiros, Acrean Indigenous Peoples, as well as members of Acrean Public Power, MINC (Ministry of Culture) and IPHAN.