voltar para Página InicialEventos“As bebidas alcoólicas e outras drogas psicoativas na História”

“As bebidas alcoólicas e outras drogas psicoativas na História”

De 25/08/2004 a 17/11/2004

Local: Departamento de História, FFLCH, Universidade de São Paulo

Nome da disciplina: “As bebidas alcoólicas e outras drogas psicoativas na História”
Prof. Dr. Henrique Soares Carneiro (Departamento de História-USP)
Segundo semestre de 2004

Objetivos:

Introduzir de forma panorâmica a multiplicidade de significados culturais dos consumos de psicoativos na história e a bibliografia histórica e antropológica que vem constituindo este campo de pesquisa num diálogo interdisciplinar. As aulas irão situar, a partir dos textos propostos, a questão teórica das drogas na história, como definição de um campo e de um objeto múltiplo que partilha aspectos da alimentação, da cura, da devoção. As drogas inserem-se na História das Religiões, na História da Ciência, na História Econômica, Política e Social. Os diversos ângulos de análise serão estudados a partir da bibliografia proposta e, especificamente, examinar-se-á a história dos álcoóis, do ópio, do tabaco, do cânhamo, das bebidas excitantes (café, chá, chocolate, etc), e dos alucinógenos, de forma a percorrer as transformações históricas nas práticas de uso de psicoativos.

Justificativa:

O tema das drogas ou substâncias psicoativas reveste-se de inúmeras facetas, desde as conquistas científicas que permitem a descoberta e invenção cada vez de um maior número de psicofármacos sintéticos ou originários de usos tradicionais em comunidades indígenas, até as formas hipertrofiadas de uso compulsivo de substâncias aditivas, como o tabaco, o álcool e os opiáceos, entre outras, que constituem-se, tanto nas formas legalizadas como nas ilegais, como alguns dos maiores mercados das épocas moderna e contemporânea.
A importância das substâncias psicoativas para a psicologia é inestimável, os psicofármacos não apenas cumprem o papel de remédios excepcionais como fornecem elementos para a compreensão dos processos psíquicos. O uso religioso caracteriza as práticas de êxtase de inúmeros povos. O consumo massivo marca a era mercantil moderna da unificação planetária com a expansão do álcool destilado assim como do tabaco, das bebidas excitantes e de outras substâncias. Para se compreender o estatuto econômico, político, cultural e científico das drogas torna-se indispensável um olhar histórico que desvende os nexos e os interesses que buscam regulamentar socialmente o consumo destas substâncias que assumem importantes papéis culturais como veículo de devoção, de cura, de identidades étnicas, de gênero e nacionais, entre outras.

Conteúdo:

1) Bebidas alcoólicas e drogas: alimentos ou remédios, luxos ou necessidades?

2) Classificação das drogas e dos estados e dimensões psíquicas nas ciências do século XIX.

3) Importância social e econômica e significados culturais do consumo dos álcoóis.

4) Cogumelos e religião. O conceito de enteógeno.

5) Controles políticos e regulamentações morais. História dos proibicionismos.

6) O cânhamo como planta industrial e medicinal.

7) Experimentação de drogas e a construção do self moderno
8) Os excitantes modernos (chocolate, chá, café)

9) Drogas e colonização do imaginário: idolatria alucinatória na América

10) A expansão conquistadora do tabaco

11) O psicodelismo contemporâneo

12) O futuro da psicofarmacologia.


Bibliografia:

ABEL, Ernest, “The Gin Epidemic: much ado about what ?”, in Alcohol and Alcoholism, vol. 36, nº 5, pp.401-405, 2001.
BELTRÁN, Gonzalo Aguirre, Medicina y magia. El processo de aculturación en la estructura colonial. Obra Antropológica VIII, México, FCE, 1992.
BERRIDGE, Virginia, “Dependência: história dos conceitos e teorias” in Edwards & Lader, A natureza da dependência de drogas, Porto Alegre, Artes Médicas, 1994, pp.13-34.
BRAUDEL, Fernand, Civilização Material, Economia e Capitalismo, Lisboa, Cosmos, 1970.
CAMPORESI, Piero, Le Pain Sauvage, L’imaginaire de la faim de la Renaissance au XVIIIe siècle, Paris, Le Chemin Vert, 1981.
CARNEIRO, Henrique Soares, Comida e Sociedade. Uma história da alimentação, Rio de Janeiro, Campus, 2003.
—————, Amores e Sonhos da Flora. Afrodisíacos e alucinógenos na Botânica e na Farmácia, São Paulo, Xamã, 2002.
—————, “As necessidades humanas e o proibicionismo das drogas no século XX”, in Outubro, nº 6, São Paulo, 2002, pp. 115-128.
—————, Filtros, Mézinhas e Triacas: as drogas no mundo moderno, São Paulo, Xamã, 1994.
CASCUDO, Luis da Camara, Prelúdio da Cachaça. Etnologia, história e sociologia da aguardente no Brasil, Belo Horizonte, Itatiaia, 1986.
CHAST, François, Histoire contemporaine des medicaments, Paris, La Découverte, 1995.
CONRAD, Chris, O uso medicinal e nutricional da maconha, Rio de Janeiro, Record, 2001.
COURTWRIGHT, David T., Forces of Habit. Drugs and the Making of the Modern World, Cambridge/Mass., Harvard Univesity Press, 2001.
DAGOGNET, F., La raison et les remèdes, Paris, P.U.F., 1984 (1.ed.1964).
DAVENPORT-HINES, Richard, The Pursuit of Oblivion. A Global History of Narcotics, Londres/N. York, W. W. Norton & Company, 2002.
DERRIDA, Jacques, A farmácia de Platão, São Paulo, Iluminuras, 1991.
EDWARDS, Griffith; e LADER, Malcolm (e col.), A natureza da dependência de drogas, Porto Alegre, Artes Médicas, 1994.
ESCOHOTADO, Antonio, Historia de las Drogas, 3 vol., Alianza Ed., Madri, 1989.
EVANS SCHULTES, Richard; e HOFMANN, Albert; (revisão Christian Rälsch), Plantas de los Dioses, Mexico, FCE, 2000 (1º ed. inglês 1979).
FERICGLA, Josep M.(ed.), Los enteógenos y la ciencia, Barcelona, La Liebre de Marzo, 1999.
FLANDRIN, Jean-Louis; e MONTANARI, Massimo (orgs.), Histoire de l’Alimentation, Paris, Fayard, 1996.
FREUD, Sigmund, O mal-estar na civilização, Col. Os Pensadores, São Paulo, Abril Cultural, 1978.
GRUZINSKI, Serge, La colonización de lo imaginario. Sociedades indígenas y occidentalización en el México español. Siglos XVI-XVIII, México, FCE, 1993 (1º ed. francês 1988).
GUARINELLO, Norberto, “A civilização do vinho. Um estudo bibliográfico”, Anais do Museu Paulista: História e Cultura Material, Nova Série, Vol.5, jan/dez 1997, p.275-278.
HOUAISS, Antonio, A cerveja e seus mistérios, Rio de Janeiro, Salamandra, 1986.
HUXLEY, Aldous, Moksha. Textos sobre Psicodélicos e a Experiência Visionária 1931-1963, Rio de Janeiro, Globo, 1983.
JOHNSON, Hugh, História do Vinho, São Paulo, Companhia das Letras.
LEARY, Timothy, The Politics of Ecstasy, Ronin, Berkeley CA, 1990 (1ª ed. 1968).
LEWIN, Louis, Phantastica, Paris, Payot, 1970 (1ª ed. 1924).
LIMA, Oswaldo Gonçalves de, Pulque, Balchê e Pajauaru na etnobiologia das bebidas e dos alimentos fermentados, Recife, Universidade Federal de Pernambuco, 1975.
Maconha (Coletânea de Trabalhos Brasileiros), 2. Ed., Serviço Nacional de Educação Sanitária, Ministério da Saúde, Rio de Janeiro, 1958.
MARQUES, Vera Regina Beltrão, Natureza em Boiões. Medicinas e boticários no Brasil setecentista, Campinas, Edunicamp, 1999.
MENESES, Ulpiano Bezerra de & CARNEIRO, Henrique, “História da Alimentação; balizas historiográficas”, Anais do Museu Paulista, São Paulo, Nova série, v.5, jan/dez 1997, pp.9-91.
MILNER, Max, L’Imaginaire des drogues. De Thomas De Quincey à Henri Michaux, Paris, Gallimard, 2000.
MINTZ, Sidney W., Sweetness and power. The place of sugar in modern history, N. York, Elizabeth Sifton Books/Penguin Books, 1986.
MOTT, Luis, “A maconha na história do Brasil”, in Diamba. Sarabamba (Coletânea de textos brasileiros sobre a maconha) (HENMAN, Anthony; e PESSOA Jr., Osvaldo, org.), São Paulo, Ground, 1986.
NARDI, Jean Baptiste, O fumo no Brasil Colônia, São Paulo, Brasiliense, 1987.
ORTA, Garcia da, Coloquios dos simples, e drogas he cousas mediçinais da India, e assi dalguas frutas achadas nella onde se tratam alguas cousas tocantes amediçina, pratica, e outras cousas boas, pera saber cõpostos pello Doutor garçia dorta: fisico del Rey nosso senhor, Goa, Ioannes de Endem, 1563.
ORTIZ, Fernando, Contrapunteo cubano del tabaco y el azúcar, La Habana, Editorial de Ciencias Sociales, 1991 (1ª ed. 1940).
OTT, Jonathan, Pharmacotheon. Drogas enteogénicas, sus fuentes vegetales y su historia, La Liebre de Marzo, Barcelona, 2000.
PERNAMBUCO, Jarbas, “A Maconha em Pernambuco”, in NOVOS ESTUDOS AFRO-BRASILEIROS, prefácio de Arthur Ramos, Recife:FUNDAJ, Editora Massangana, 1988 (Fac-símile de Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1937), pp.187-193.
PIGNARRE, Philippe, O que é medicamento?. Um objeto estranho entre ciência, mercado e sociedade, São Paulo, Editora 34, 1999.
PHILLIPS, Rod, Uma Breve História do Vinho, Rio de Janeiro, Record, 2003.
POKHLIÓBKIN, W. V., Uma História da Vodca, São Paulo, Ática, 1995.
ROBINSON, Rowan, O grande livro da Cannabis. Guia completo do seu uso industrial, medicinal e ambiental, Rio de Janeiro, Jorge Zahar Ed., 1999.
SACHS, Julius von, Histoire de la Botanique. Du XVIIe siècle à 1860, Paris, C. Reinwald, 1892 (1º éd. alemã 1875).
SANTIAGO, Jésus, A droga do toxicômano. Uma parceria cínica na era da ciência, Rio de Janeiro, Zahar, 2001.
SCHIVELBUSCH, Wolfgang, Histoire des stimulants, Paris, Gallimard, 1991.
SEIBEL, Sérgio Dario; e TOSCANO Jr., Alfredo (ed.), Dependência de drogas, São Paulo, Atheneu, 2001.
Solaz del Espíritu en el Hachís y el Vino y otros textos árabes sobre drogas, Introducción, traducción y notas de Indalecio Lozano, Granada, Universidade de Granada, 1998.
SZASZ, Thomas, La persécution rituelle des drogués, boucs émissaires de notre temps. Le contrôle d’État de la pharmacopée, França, Editions du Lézard, 1994 (Cerimonial Chemistry, 1974).
——– – Notre droit aux drogues, França, Editions du Lézard, 1994 (Our rigths to drugs. The Case for a Free Market, 1992).
TOIT, Brian M. du, “Man and Cannabis in Africa: a Study of Diffusion”, in African Economic History, Spring, 1976, pp.17-35.
WALLERSTEIN, Immanuel, El moderno sistema mundial, Vol. I La agricultura capitalista y los orígenes de la economia-mundo en el siglo XVI, Vol. II El mercantilismo y la consolidación de la economia-mundo europea, 1600-1750., Madri, Siglo Veinteuno, 1984.
WASSON, R. Gordon e KRAMRISCH, Stella; OTT, Jonathan; RUCK, Carl A.P., La Búsqueda de Perséfone. Los enteógenos y los orígenes de la religión, México, FCE, 1992 (1º ed. em inglês 1986).


“As bebidas alcoólicas e drogas psicoativas na História” 2º semestre 2004
Prof. Dr. Henrique S. Carneiro.

Cronograma dos textos para cada aula

25 de agosto
1) Bebidas alcoólicas e drogas: alimentos ou remédios, luxos ou necessidades?
Fernand Braudel, O supérfluo e o vulgar: alimentação e bebidas, in Civilização material e Capitalismo, tomo 1, pp.182-214.

1 de setembro
2) Controles políticos e regulamentações morais.
Antonio Escohotado, Historia de las Drogas, vol. 1, pp. 9-58.

15 de setembro
3) História dos proibicionismos.
Jonathan Ott, Pharmacotheon. drogas enteogénicas, sus fuentes vegetales y su historia, pp. 19-71 (Proemium).

22 de setembro
4) Os significados das bebidas alcoólicas.
Louis E. Grivetti, Wine: The Food with Two Faces, in The Origins and Ancient History of Wine, pp. 9-17.

29 de setembro
5) Cogumelos e religião. O conceito de enteógeno.
Gordon Wasson, La Búsqueda de Pérsofone. Los enteógenos y los orígenes de la religión, pp. 13-34.

6 de outubro
6) O cânhamo como planta industrial e medicinal.
Garcia da Orta, Colóquio do Bangue, (1563).
Rowan Robinson, O grande livro da Cannabis, pp. 64-102.
documentário “Grass”.

13 de outubro
7) Os excitantes modernos (chocolate, chá, café)
Wolfgang Schivelbusch, Histoire des stimulants, pp. 21-55; 71-78.

20 de outubro
8) Experimentação de drogas e a construção do self moderno
Richard Davenport-Hines, The Pursuit of Oblivion. A Global History of Narcotics, pp. 21-42.

27 de outubro
9) Drogas e colonização do imaginário: idolatria alucinatória na América
Serge Gruzinski, La colonización de lo imaginario. Sociedades indígenas y occidentalización en el México español. Siglos XVI-XVIII, pp. 216-225.


3 de novembro
10) A expansão conquistadora do tabaco
Fernando Ortiz, Contrapunteo cubano del tabaco y el azúcar, pp. 258-288.

10 de novembro
11) O psicodelismo contemporâneo
Aldous Huxley, Drogas que moldam a mente dos homens (1958), in Moksha, pp. 181-193.

17 de novembro
12) O futuro da psicofarmacologia.
J. Ott, Paraísos naturales, in Los enteógenos y la ciencia, pp. 91-108.