voltar para Página InicialEventosGrupo de Trabalho “Plantas Sagradas, Ritual e Novas Espiritualidades”

Grupo de Trabalho “Plantas Sagradas, Ritual e Novas Espiritualidades”

De 07/11/2016 a 08/11/2016

(Evento NEIP)

Local: Ocupação estudantil do CAD 2, UFMG, campus Pampulha – Belo Horizonte, MG

Dias e horários: 07/11/16, segunda-feira, das 8:30h às 12h (sessão 1), e 08/11/16, terça-feira, das 8:30h às 12h (sessão 2), e das 14h às 18:30h (sessões 3 e 4)

Coordenadores:

Glauber Loures de Assis – Sociologia/UFMG

Jacqueline Alves Rodrigues – Antropologia/UFMG

Isabel Santana de Rose – Antropologia/UFMG

Realização:

II Seminário Discente de Sociologia da UFMG – http://seminariodiscentesoc.wixsite.com/ppgsufmg

CESAP – Centro de Estudos de Sociologia Antônio Augusto Pereira Prates

NEIP – Núcleo de Estudos Interdisciplinares sobre Psicoativos – www.neip.info

VIDEOS

GT Ocupação Plantas Sagradas

Proposta do GT:

Na sociedade globalizada contemporânea, vive-se um cenário complexo e plural, no qual há, por um lado, a subjetivação e desinstitucionalização do religioso, com a emergência e popularização de diversas novas espiritualidades, e a vigência do modelo proibicionista em relação às substâncias psicoativas, onde a política de “guerra as drogas” permanece preponderante. Por outro lado, assiste-se a uma valorização das religiosidades e saberes tradicionais e indígenas, onde práticas rituais de comunidades amazônicas,africanas e orientais conquistam adeptos nos grandes centros urbanos e diversas plantas e substâncias “sagradas”, como ayahuasca, peiote, iboga e rapé, passam a ser utilizadas por um amplo público ligado às redes de religiosidade Nova Era e às terapias psicodélicas. Esse GT pretende, a partir de uma perspectiva multidisciplinar, reunir estudos que discutam a complexidade da sociedade contemporânea a partir de temas sensíveis à temática proposta, como por exemplo: relação entre mercado da fé e “resgate” do tradicional, inserção de indígenas no circuito religioso/esotérico urbano, utilização ritual e/ou terapêutica de plantas sagradas e seus conflitos jurídicos e científicos, divergências de ordem religiosa e dilemas de pesquisa no estudo sobre religiosidade e psicoativos.

Sessão 01: Santo Daime – expansão e novos desdobramentos (07/11 – 8:30 às 12hs)
(Total de resumos: 05)

Plantas de poder em contextos de situação – o Santo Daime
Autor: Francisco Savoi de Araújo – graduando em Antropologia pela UFMG
Email: fransavoi@yahoo.com.br

Resumo: Experiências que envolvem diferentes estados de consciência e níveis de percepção da realidade tem sido há muito tempo objeto de intensas controvérsias na sociedade ocidental. Dentre as diferentes formas de induzir o organismo humano a atingir tais patamares de consciência temos a utilização de uma extensa lista de espécies botânicas agrupadas genericamente sob a nomenclatura de psicoativos, podendo levar um indivíduo a estados visionários situados dentro de um transe ou êxtase. Contudo tais experiências foram historicamente reprimidas dentro de nossa sociedade, uma vez que a ciência ocidental construiu uma série de argumentos para tentar comprovar os possíveis danos psíquicos que a utilização de tais substâncias poderiam acarretar a um indivíduo, justificando-se a famigerada guerra às drogas como uma medida de preservação da saúde pública. Os danos seriam basicamente a degenerescência moral e riscos extremos de distúrbios psicológicos. Por outro lado, os psicoativos, ou como bem poderíamos chamar psicointegradores são de fato utilizados por diversas culturas ancestrais difundidas pelo mundo, onde podem adquirir um caráter especificamente sagrado. No Brasil temos o uso da Ayahuasca, que se expandiu por todo o mundo a partir da institucionalização de seu uso pelas assim chamadas religiões ayahuasqueiras. Nesta expansão o preconceito e a descriminação contra o uso de psicointegradores foram colocados em cheque, passando pela reflexão necessária sobre a contundência da política de drogas vigente na nossa constituição. Desta forma a substância deixa de ser considerada em si uma vez que adquire grande relevância os agenciamentos que dela são realizados dentro de cada contexto específico. Nessa situação os sistemas de significações adotados pelas religiões ayahuasqueiras, no nosso caso a religião do Santo Daime, atribuem determinados valores aos efeitos da Ayahuasca que não condizem necessariamente com o que a ciência ocidental proclama. O que seria uma experiência negativa dentro de um contexto adquire conotações especialmente positivas.

Back to the Forest: a diáspora do Santo Daime e seus impactos reflexivos no Céu do Mapiá – AM
Autor: Glauber Loures Assis – doutorando em sociologia UFMG
Email: glauberloris@hotmail.com

Resumo: A religião do Santo Daime, nascida no início dos anos de 1930 no Acre, a partir da década de 1980 se expandiu para todas as regiões do Brasil e diversos países de todos os continentes habitados. Essa expansão internacional, ou diáspora, levou o Santo Daime para um cenário urbano contemporâneo bastante diferente da sociedade seringalista de seu surgimento. Com isso, pessoas altamente escolarizadas, estrangeiros que não falam português e uma série de novos atores passaram a integrar o milieu daimista, e na medida em que a doutrina ganhava o mundo, ressignificações e novos desafios institucionais (inclusive do ponto de vista legal) se apresentaram nos novos contextos. Esse movimento de expansão, contudo, é uma via de mão dupla: Além de possuir esse movimento centrífugo, com o estabelecimento de igrejas em vários lugares do Brasil e do mundo, também há um movimento centrípeto na expansão do Santo Daime, qual seja, o impacto da diáspora nas próprias comunidades daimistas do Norte do Brasil. Esse primeiro movimento centrífugo tem sido estudados, mas esse segundo movimento, centrípeto, permanece praticamente intocado pelos estudos acadêmicos. É exatamente esse o propósito desse trabalho: olhar para os impactos da expansão internacional do Santo Daime nos agrupamentos daimistas do norte brasileiro, com ênfase especial no Céu do Mapiá, comunidade daimista localizada na Floresta Nacional do Purus que é a sede da ICEFLU, vertente religiosa que tem a maior responsabilidade pelo movimento expansionista do Santo Daime.

Ser mulher e ser daimista: questões para refletir gênero e religião no Santo Daime
Autora: Camila de Pieri Benedito – Doutoranda em sociologia UFSCar
Email: camis.benedito@gmail.com

Resumo: Esta comunicação tem como objetivo expor os principais questionamentos da pesquisa de doutoramento da autora. Iniciada em março de 2015, a proposta se insere na intersecção entre as temáticas de gênero e religião e objetiva a interpretação sociológica das experiências de gênero de adeptas do Santo Daime, enquanto mulheres, fora da Amazônia, tendo em vista a centralidade da devoção mariana, o uso ritual da ayahuasca e o significado que as adeptas dão à sua experiência de gênero em momento anterior e posterior à conversão. Ao se focar em uma comunidade religiosa fora da Amazônia, localização geográfica original do Santo Daime, esta pesquisa dialoga tanto com os trabalhos na temática de estudos da religião que se debruçam sobre a pequena, porém existente diversidade religiosa brasileira, como também com os que enfocam o processo de expansão e adesão aos Novos Movimentos Religiosos, parte desta pluraridade e, ainda, movimento ao qual o Santo Daime integra. A pesquisa é de caráter etnográfico e tem como lócus de análise a comunidade daimista Céu do Gamarra, instalada na zona rural da cidade de Baependi, no sul de Minas Gerais. Enquanto marcos teórico-metodológicos, experiência e gênero são utilizados como categorias analíticas, seguindo a proposta de Joan Scott (1998; 1999). Desta forma, são observadas em sua historicidade, enquanto construídas por uma rede múltipla de relações históricas e sociais. Por conta disso, a metodologia de pesquisa abarca o resgate histórico da expansão do Santo Daime – e suas relações com a contracultura e o neoesoterismo, partindo-se então de uma bibliografia já existente -, a análise de seu material litúrgico em comparação ao cristão católico canônico sobre Maria e a interpretação crítica de entrevistas realizadas com adeptas e experiências etnográficas de campo.

O uso ritualístico de Ayahuasca para estudantes de Psicologia da Universidade Federal de Uberlândia
Autora: Clara Moriá Borges Rodrigues, graduanda em Psicologia pela Universidade Federal de Uberlândia.
Email: claramoria@hotmail.com

Resumo: O presente trabalho tem por tema o uso ritualístico da Ayahuasca no ambiente acadêmico do curso de Psicologia, na Universidade Federal de Uberlândia. A Ayahuasca, uma bebida de efeitos psicoativos, é usada em rituais religiosos, originalmente utilizada por tribos indígenas brasileiras associadas à práticas xamânicas e por curandeiros que praticavam a medicina com base nos extratos vegetais.  (Luna, 1986; Tupper, 2002 citado por Pires et al, 2009). A Ayahuasca é uma bebida enteógena, o que significa que é uma substância química que tem a finalidade de produzir um estado de consciência alterado para fins religiosos e espirituais.  O uso religioso da Ayahuasca foi reconhecido como prática legal no Brasil pelo Conselho Nacional Antidrogas, em Resolução de 04 de novembro de 2004. (Conselho Nacional Anti-drogas, 2004). O objetivo deste projeto é estudar a relação dos alunos de Psicologia da Universidade Federal de Uberlândia, adeptos ao uso de Ayahuasca, com a bebida e seus rituais religiosos. Ao começar a frequentar os trabalhos no Santo Daime, a autora (estudante de Psicologia) percebeu quantos colegas de curso também faziam uso da bebida, portanto julgou-se interessante pesquisar a relação dos alunos com a substância. Para isso, será utilizado o método fenomenológico de pesquisa. Os participantes serão alunos da graduação em Psicologia da Universidade Federal de Uberlândia que já fizeram uso ritualístico de ayahuasca pelo menos uma vez. O instrumento para averiguação da questão objetivada será entrevista com pergunta disparadora.

Santo Daime e Santa Maria: conflitos e resistência
Autor: Ubirajara Ferreira Junior, mestrando em Psicologia Social pela UERJ.
Email: biraferreira@gmail.com

Resumo: A presente pesquisa busca delinear as representações sociais da planta Cannabis na religião do Santo Daime pelo método de participação observante. Analisou-se os processos de “ancoragens” e “objetivações” de sua formação; os conflitos intragrupais e extragrupais desta representação; e as resistências de suas práticas ritualísticas. Os resultados até o momento apontam transferências dos valores desenvolvidos para a ayahuasca ao novo objeto – Cannabis – devido suas características intercambiáveis como enteógenos. A Cannabis passou a ser uma via para a manifestação do Divino como uma “força feminina” – que traz o “amor e alegria” de Santa Maria – entidade Católica a quem se ancorou e da qual recebeu o nome. Esta representação de sacralidade levou ao desenvolvimento de práticas ritualísticas para a Santa Maria próximas as já estabelecidas para a ayahuasca, batizada por Santo Daime. No entanto, devido a problemática política de drogas reproduzida no Brasil, o grupo religioso enfrenta processos de repressão militar e judicial, seguido de depreciações midiáticas e consequente intensificação de seus conflitos internos. Assim, Santa Maria vem sobrevivendo de forma velada e difusa dentre seus membros. Com indicativos de fortalecimento da identidade mariana concomitante ao atual crescimento de visibilidade dos movimentos antiproibicionistas, aos quais tem proporcionado a seus devotos sofrerem menores danos sociais e obterem melhores estruturações de suas práticas.

Sessão 02: Expansão da ayahuasca e as alianças entre religiões ayahuasqueiras e grupos indígenas (08/11 – 8:30 às 12hs)
(total de resumos: 05)

Rapé para se firmar: Santo Daime e alianças com os Yawanawa
Autora: Aline Ferreira Oliveira – doutoranda em antropologia USP
Email: alinferreiraoliveira@gmail.com

Resumo: Este trabalho reflete sobre o papel do Santo Daime nos diferentes processos de reinvenção da cultura de grupos do tronco linguístico Pano. Em um primeiro momento, exploramos encontros entre daimistas e indígenas pano no Acre, enquanto ações cosmopolíticas onde a ayahuasca é central nos processos de retomadas de práticas entre os Yawanawa e os Huni Kuin. Em um segundo momento farei um mapeamento das alianças do Santo Daime com os Yawanawa, dando destaque às suas relações da igreja Céu do Mar, do Rio de Janeiro, e a aldeia do Mutum, onde realizo minha pesquisa de doutorado. Busco explorar a incorporação de práticas xamânicas yawanawa – como dietas, cantos, medicinas- por daimistas, bem como destacar elementos contemporâneos que nos remetam a transformações sociológicas em diversos âmbitos, como na intensificação das dietas entre os Yawanawa e a participação das mulheres no xamanismo.

Assopro e cura dos yuxibus: o rapé e o povo Huni Kuin
Autor: Vinícius Renzulli – bacharel em filosofia pela UFSC
Email: kumaisku@gmail.com

Resumo: Este estudo tem como propósito abordar o Rapé no contexto do povo Huni Kuin (Kaxinawá), uma medicina feita a partir do tabaco moído e misturado a cinzas recolhidas a partir da queima de cascas e outras partes de árvores específicas, podendo conter também ervas, raízes, sementes e outros ingredientes. O Rapé é um elemento integrante da cosmologia, espiritualidade e tradição do povo Huni Kuin e, para buscar compreendê-lo, é necessário um mergulho nas histórias dos antigos, que remontam aos mitos da criação e à ancestralidade deste povo da floresta. Este mergulho tem como fio condutor as próprias histórias contadas pelos nativos não somente através da oralidade, mas também em registros literários, artísticos e audiovisuais, para poder compreender o Rapé tal como está presente no universo Huni Kuin. Partimos da análise da História de Yuxibu contada pelo pajé Agostinho Ika Muru no livro Una Isĩ Kayawa: livro da cura do povo Huni Kuĩ do rio Jordão, onde o pajé se pergunta quem ou o que é Yuxibu. Apesar de ter nome, Yuxibu ninguém vê ou sabe de onde vem, mas ele é aquele que criou, que fez tudo, é o próprio poder da criação e a criação em si, algo que se dá um nome mesmo sem poder ser visto, e que perpassa por tudo aquilo que existe. No hatxã kuĩ – a língua dos Huni Kuin – o primeiro Yuxibu foi o vento (Niwe). Esse Yuxibu que é o Niwe permeia toda a cosmologia do povo Huni Kuin, sendo também aquilo que se manifesta como o poder da criação, da palavra e da vida, de onde se origina todo o conhecimento de cura e doença deste povo, lugar em que se insere o Rapé, como uma das formas do poder do assopro do vento.

Aliança das medicinas: redes xamânicas contemporâneas no Brasil
Autora: Isabel de Rose – pós-doutoranda pelo PPGAN/UFMG.
Email: belderose@gmail.com

Resumo: Este trabalho reflete sobre a formação de uma rede de relações entre um grupo xamânico contemporâneo internacional, uma comunidade do Santo Daime e uma aldeia guarani localizada no litoral sul do Brasil, tendo como um de seus resultados um conjunto de performances rituais compartilhadas que incluem rituais como o temazcal, a busca da visão e o uso da ayahuasca e outras “medicinas”. Os intercâmbios entre esses diferentes grupos deram lugar a uma intensa circulação de pessoas, conhecimentos e substâncias dentro de uma rede autodenominada Aliança das Medicinas, que emergiu a partir do início dos anos 2000 em Santa Catarina. Neste contexto, os símbolos e significados fluem de diferentes maneiras; os intercâmbios e apropriações acontecem em múltiplos níveis; e os diálogos entre os diversos participantes são multi-direcionais. Com base em pesquisa de campo realizada entre 2006 e 2008, este foi um dos primeiros estudos de caso sobre a entrada dos grupos indígenas nos circuitos ayahuasqueiros brasileiros. Principalmente ao longo dos últimos dez anos este processo vem se expandindo e se intensificando, gerando uma série de reconfigurações no âmbito desses circuitos e trazendo uma série de novas questões e desafios, tanto teóricos quanto empíricos. Estas questões também serão abordadas neste trabalho, de maneira preliminar.

O uso de plantas de poder na aprendizagem dos pajés Yawanawa
Autora: Cynthia Carrillo – mestranda em educação na UFMG
Email:cyncici@gmail.com

Resumo: O trabalho propõe identificar, descrever e analisar os processos de formação dos pajés Yawanawa, a partir do uso de plantas de poder,  conhecidas entre eles como “medicinas da floresta”.  Serão abordados os processos de aprendizagem entre os pajés Yawanawá, com um olhar atento para três aspectos principais: a aprendizagem como transformação corporal; a formação de relações entre o aprendiz de pajé e seres não-humanos; e, o uso de plantas de poder específicas, tais como o uni  (ayahuasca), o rapé e o muká. Dietas, restrições e isolamentos, combinados com o uso continuado de substâncias psicotrópicas,  transformam um corpo de homem ou mulher em um corpo de pajé, capaz de estabelecer boas relações com pajés mais experientes e/ou com não-humanos que detém uma capacidade específica que o aprendiz de pajé deseja alcançar. Ainda, a função de pajé, foi, desde sempre, considerada uma prática exclusivamente masculina entre os Yawanawa. Contudo, com a iniciação de Hushahu e Putanny, as duas primeiras mulheres Yawanawa a passarem pelo processo de iniciação do muká, também as medicinas rapé e uni,  passaram a ser usadas também pelas mulheres, sendo comum encontrar moças jovens Yawanawa que “estudam as medicians”. O estudo tem como base pesquisa de campo realizada na Aldeia Mutum,  localizada no Rio Gregório, Terra Indígena Yawanawa, no Acre, que sustentará  dissertação de mestrado em educação em elaboração.

Revisitando a medicina tradicional nos grandes centros urbanos e a terapêutica das adições
Autores: Marluce Geralda Rezende Moreira e Victor Cruz de Freitas
Emails: marlucegrm@hotmail.com e vcruzfreitas@gmail.com

Resumo: Este trabalho tem como tema abordar as práticas da medicina tradicional nos grandes centros urbanos e seus efeitos no tratamento das adições. A medicina tradicional entendida como a utilização de plantas sagradas ou plantas de poder tais como: Ayahuasca, Peyote, Ibogaína, Cannabis, em rituais xamâmico. Já o termo adição é utilizado para se referir ao comportamento humano repetitivo e incontrolável que representa uma forma de obter prazer e escapar do sofrimento psíquico em decorrência do mal estar na atualidade. Diante do processo de urbanização e o modo de vida metropolitano, o homem trava uma luta entre as manifestações do psiquismo e sua sobrevivência na natureza. As estruturas psíquicas vão se acomodando nos ajustamentos das forças sociais. Na fenda entre o modo de subjetivação da sociedade urbana surge o apelo à espiritualidade e saberes tradicionais. A ciência do comportamento humano, a psicologia, se depara com a complexidade do sujeito na contemporaneidade. Os desafios se renovam e é na clínica, no tratamento dos adictos que a demanda por novas práticas e/ou técnicas, fazem-se necessárias. Tem-se na medicina moderna, através da medicalização, uma alternativa, no entanto sua eficácia, em relação às adições, é questionável. É na contramão das exigências contemporâneas que o sujeito busca recursos para sobreviver, frente ao fluxo inverso de sua condição de existência. É na convergência entre as condições e possibilidades do cenário social que o sujeito e a toxicomania se encontram. Compreendendo que a visão de homem e de mundo adquire novas configurações em decorrência das mudanças na sociedade, temos como objetivo lançar novos olhares sobre o sujeito social e as práticas ritualísticas indígenas e as terapêuticas com plantas sagradas no tratamento das adições.

Sessão 03: Substâncias psicoativas, tradição e música (08/11 – tarde: 14h às 16h)
(total de resumos: 03)

Hinos e vozes ‘dos antigos’ do Daime – “presta atenção!”
Autora: Kátia Benati Rabelo – mestre em musica pela UFMG
Email: katbenati@gmail.com

Resumo: Imaginemos o universo da ayahuasca como grande mosaico não-figurativo, no qual os diversos povos/comunidades que a utilizam ritualmente são as partículas, dispostas de modo a não gerar imagem, mas aglutinar campos, avizinhar cores. Povos indígenas, xamãs, comunidades tradicionais, neoayahuasqueiros urbanos etc. apontam essa diversidade de práticas rituais, mitologias, doutrinas. Particularizando o Daime e suas vertentes, por sua vez elas replicam a impossibilidade de uma imagem totalizante, para a qual possamos olhar e dizer – é o Daime. Durante 85 anos, gerações e culturas de diversas regiões do Brasil e mundo se integraram ao Daime, em afinidade ou ruptura com as matrizes amazônicas, gerando diferenças internas (rituais, concepções de doutrina). Percebe-se, porém, a centralidade da música na religião – os saberes são cantados e não pregados -, melhor dizendo, na Doutrina do Daime são musicalmente “enviados” e enunciados. Os hinos são o cerne da estruturação doutrinária e ritual. Suas melodias tangenciam sonoridades nordestinas e amazônicas, ancoradas nas musicalidades católico-populares, afro-brasileiras e populares urbanas das primeiras décadas do sec. XX, época da formação dos principais hinários. Tal hibridismo a singulariza/identifica enquanto música do Daime. Apoiada em pesquisas no âmbito da Etnomusicologia/Antropologia da Música, a partir das vozes de antigos acreanos, busquei apreender “categorias” musicais emanadas das experiências de recepção e confirmação de hinos, concepções de “autoria”, redes de enunciações, do cantar e tocar nos rituais. Dentro das contínuas transformações vivenciadas nos processos de transmissão oral e difusão, o que adeptos defendem como relevante para cumprir sua finalidade ritual-musical-religiosa? Em que grau a música participa da compreensão mais ampla acerca da Doutrina? Como essas vozes antigas podem/devem ser ouvidas dentro da multiplicidade contemporânea? São questões pertinentes, que pretendo discutir.

Disputa de ‘tradições’: uma perspectiva do ritual nos centros do Santo Daime da RMBH
Autora: Jacqueline Rodrigues – mestranda no PPGAN/UFMG
Email: jacqueline.art@gmail.com

Resumo: No início do séc. 21, os grupos do Santo Daime enfrentam uma constante tensão entre tradição e modernidade. Por um lado, buscam se ancorar numa narrativa mítica dos povos da floresta, das culturas ameríndias e do uso “milenar” da ayahuasca com vistas à sua legitimidade. Ou seja: Procuram se mostrar e ser vistos como grupos tradicionais que possuem um saber étnico e tradicional relacionado à Amazônia brasileira. Por outro lado, têm que ressignificar suas práticas e narrativas e se atualizar continuamente no cenário urbano, inserindo-se no mundo virtual da internet e dinamizando suas práticas para sobreviverem em um mercado religioso cada vez mais plural e globalizado. Esse trabalho se propõe a observar como essa dinâmica se apresenta no âmbito do ritual daimista, através da pesquisa de campo realizada nos centros dessa religião na região metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), para discutir as relações entre “tradição” e ritual no contexto contemporâneo das novas religiosidades. Nesse tocante, o Santo Daime aparece como um caso paradigmático. Visto como uma tradição religiosa brasileira por seus adeptos, tanto no Brasil quanto no exterior, essa religião não possui uma instituição central forte, tal como o vaticano no caso do catolicismo. Ao contrário, após o falecimento de seu líder, o Daime se fragmentou e se dividiu em diversas linhas, processo que desde então tem se intensificado cada vez mais, com novas subdivisões e a crescente independência dos grupos do sudeste em relação às matrizes religiosas do norte do país. Nessa configuração fragmentária, com diversas divisões inclusive entre os grupos mais antigos do Norte do Brasil, não existe uma única “tradição” daimista. São vários os grupos que se consideram tradicionais do Norte, assim como são várias as narrativas utilizadas acerca da tradição – ter convivido com o fundador da religião, ter algum grau de parentesco com uma importante liderança do Norte, ortodoxia ritual, vinculação institucional com algum núcleo daimista amazônico, etc. Esses discursos e narrativas são acionados de diferentes formas pelas igrejas do Santo Daime no sudeste em busca da construção dos grupos enquanto representantes “tradicionais” da religião. Debruçando o olhar sobre as diversas formas e conduções do ritual, podemos pensar as práticas e discursos que englobam estas assim chamadas “tradições” dentro do Santo Daime.

Cultura psytrance: a reafirmação da meditação ativa como canal de autoconhecimento
Autor: Arthur Maciel Discacciati – graduando em direito pela UFMG
Email: arthur.discacciati@gmail.com

Resumo: O sincretismo entre ancestralidade, tecnologia e humanismo parece ser a tríade formadora de um gênero musical inserido na música eletrônica: o psytrance. Sendo fenômeno social global, o objetivo do texto perpassa uma elucidação acerca da ritualística presente na estimulação sinestésica e metafísica proporcionada pela música, dança e estados alterados de consciência. Como caminho metodológico, a gênese do gênero será abordada, tocando, pois, desde o início da mixagem e sobreposição de sonidos de forma sintética, à criação do subgênero per se, que perpassa toda uma mistura de influências new-age, seja na criação musical, assim como nas premissas ideológicas que balizam toda a interação interpessoal na cena psytrance, exteriorizado pelo P.L.U.R. (Peace, Love, Union and Respect).

Ademais, será tratado no decorrer do artigo, a importância dos acessos psicodélicos na desconstrução do ego e posterior construção da persona individual, e como decorrência dessa movimentação, o enorme papel que a pista de dança detém como catalisador desse desenvolvimento interior. Será abordado, também, a relação intrínseca entre o guia de um ritual religioso (um xamã por exemplo) e o DJ de Trance, cujo intuito de seu trabalho é o fechamento e controle energético do ritual em andamento. Dentre as substâncias estimulantes do estado de transe, tratar-se-á da dietilamida do ácido lisérgico (LSD), a Psilocibina (encontrada naturalmente em cogumelos alucinógenos) e a dimetiltriptamina (DMT). Em menor escala também será abordada a influência da metilenodioximetanfetamina (MDMA) na cultura em questão.

Sessão 04: Religiões afro-brasileiras (08/11 – tarde: 16:30h às 18:30h)
(total de resumos: 03)

Cura e resistência: medicina popular e práticas de benzeção na Região Metropolitana de Belo Horizonte. Estudo de Casa Tantinha e Fernando; Ervanário São Francisco de Assis
Autoras: Ana Paula Mattos – graduada em jornalismo pela PUC/MG, Crisângela de Souza – graduanda pela UFMG
Email: anapaulafmattos@gmail.com ; crisangelaelen@gmail.com

Resumo: Este artigo tem o objetivo de refletir sobre as práticas de cura popular por meio das plantas medicinais no contexto urbano da Região Metropolitana de Belo Horizonte. Para construção do mesmo, será realizada revisão bibliográfica utilizado de autores como Bartolomeu Tito Figueirôa de Medeiros, Miriam Cristina M. Rabelo e Estélio Goomberg, Paulo Freire, etc.  Para além serão realizadas visitas de campo no Ervanário São Francisco de Assis¹, onde será aplicado questionários semi estruturados com base em metodologias participativas, buscando investigar sobre os principais conflitos, potencialidades, dificuldades, produção, comercialização e conexões religiosas que utilizem as plantas medicinais.

Preto e velho: Agenciamentos de cura e ancestralidade banto
Autor: Arthur Henrique Nogueira Almeida – graduado em Antropologia, UFMG
Email: arthur.nalmeida@gmail.com

Resumo: Este trabalho trata dos agenciamentos de cura nas religiões afrobrasileiras de matriz banto, com base em uma pesquisa de campo realizada principalmente em um terreiro de Umbanda, o Centro Espírita São Sebastião (C.E.S.S., localizado na região metropolitana de Belo Horizonte, no bairro Sagrada Família), mas que também abordou outros espaços e sujeitos ligados a essas religiões. O enfoque central está nos agenciamentos de cura dos pretos velhos, que são antepassados, guias espirituais e principais mentores nos terreiros de Umbanda. A partir do trabalho etnográfico, foi possível perceber que os pretos velhos se mostram bastante atuantes nos itinerários terapêuticos das pessoas que buscam os terreiros para obter a cura para suas doenças, mazelas e sofrimentos. Somado a isto, os dados de campo indicaram que os pretos velhos podem ser considerados como importantes agentes de uma matriz religiosa e cultural que se revela como diversa e sincrética, congregando assim distintas tradições religiosas e terapêuticas em suas práticas, ao mesmo tempo em que fortemente vinculada à ancestralidade.

Ouro Preto, uma cidade ‘negra’ conhecendo a diversidade de sua raiz religiosa: a importância da inclusão das religiões brasileiras de matrizes africanas na educação através do ensino religioso
Autora: Joelma Aparecida Guimarães – graduada pela UFOP
Email: joelmalaguardia@gmail.com

Resumo: O Brasil é considerado popularmente como um país de rica influência africana nos quesitos culturais, artísticos e religiosos. Este fator é comumente ligado à herança deixada pelos negros que aqui chegaram durante o período de colonização. No entanto, acredita-se que o tradicionalismo e o preconceito excessivo contribuem para que essas riquezas se limitem a um público pequeno que preferem esconder-se para não ser alvo de perseguição e discriminação, principalmente no quesito religioso.

Considerando que a cidade de Ouro Preto possivelmente apresenta sua população majoritariamente negra, o objetivo deste trabalho é pesquisar se na disciplina de ensino religioso das escolas municipais estão sendo trabalhadas as religiões de matrizes africanas e de que forma acontece a exposição do tema. Para obter os resultados acontecerá uma analise do material didático utilizado na matéria em questão com a finalidade de se conhecer os conteúdos abordados através do ementário da disciplina, além de uma pesquisa qualitativa e observações das aulas. Este trabalho de pesquisa terá como base inicial a lei 10.639/2003, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no currículo oficial da Rede de Ensino a obrigatoriedade da temática “História e Cultura Afro-Brasileira”. Ainda que essa Lei já exista há treze anos, percebe-se que na maioria das vezes a História Africana continua sendo lembrada tanto nas escolas quanto fora dela, apenas no dia em que se comemora a Consciência Negra. Diante deste quadro, as pessoas que cultivam suas raízes e integram as religiões de matrizes africanas sofrem a todo o momento insultos e críticas infundadas que tem intuito de coibir os mesmos de propagarem sua fé e seus conhecimentos religiosos, por isso, incentivar para que a cultura africana possa ser conhecida e respeitada é algo necessário e este trabalho pode ser o marco da quebra de um tabu na sociedade Ouropretana.

ENCERRAMENTO: Terça-feira, 08/11,18:30h com a apresentação musical de Nádia Campos e banda, tocando ritmos tradicionais brasileiros.